8.9.06
Eu permito.
Sem considerar nenhum outro desejo que não o de agora.
Sem considerar nenhum passado entre nós ou qualquer possibilidade de futuro.
Permito.
Entrego confiando nos teus olhos todos os passos que nos permitimos até aqui.
Onde zeramos nosso antes e interrogamos o nosso depois.
Aqui eu tiro a roupa dos dias e exijo a tua nudez de homem e o vermelho da tua boca, a maciez da tua pele, os pêlos na desordem do corpo, os traços e volumes e os músculos e nós.
Nós, a soma do eu e do tu.
O plural, transbordando o copo, o olhar duplicado, as diferenças, a vida comum refletida pelo espelho dos olhos do outro, o elo de qual ligação nos deu o laço de qual sapato, de qual coração vagabundo leviano estamos falando?
Eu permito.
Sabendo de tudo o que eu sei até aqui e ignorando essa trajetória para começar um novo começo. Porque é preciso desaprender de quando em quando, zerar para uma nova temporada, limpar a pista para um novo desfile, cada pessoa é um novo começo.
Não pense que não.
Tenho a soma dos teus olhos nos meus, a soma da tua barba no meu rosto e todo o embolar de cabelos e sons, desde quando o sexo é tão bom e confortável e dura tanto e não deve ter fim e fodam-se as convenções e os papais-mamães e todas as transas sem amor porque para compreender o que é invadir o corpo do outro é preciso amar e desejar tão intensamente sem ter que pedir licença para entrar, sem se sentir constrangida para explodir séculos e vidas dentro do universo e da intimidade e da história do outro.
Entre.
Eu permito.
Eu desejo.
Eu exijo a tua brutalidade sem que queiras me impressionar, apenas satisfazer nossos silêncios. De olhos nos olhos e corpos nos corpos, deslizar de abismos, selvageria de estranhos íntimos
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