21.5.06

Eu podia falar de como fui realmente parar lá por acaso. Podia dizer do quanto aquele lugar me fez ficar viajando nos desejos das pessoas ali presentes, nos códigos de conduta, na ânsia meio histérica de reduzir a mera diversão o labirinto perigoso que se abre sempre nos nossos encontros.

Talvez eu pudesse falar também de sintonia, de como você soube num primeiro olhar que se eu quisesse algo da noite seriam as suas mãos, os seus dedos, a sua temperatura que me conduziriam (e de como eu concordei num sorriso). Ou contar do inusitado jogo de olhares, gato-e-rato, o atrito dos corpos, a quase-luxúria pública. Todos em volta, a nudez e gemidos imaginados por nós e nós por horas entretidos na sinuca das sondagens.

Poderia mesmo narrar a parte divertida, minhas convicções indo por terra quando de um puxão para o beijo e o seu pau quase saindo da calça foi tudo muito rápido e eu nem pensei em nada. Dizer que daí em diante tudo ficou turvo e passou a existir ali só a minha boca, só o contato da carne pulsante e nada além do cinza dos seus olhos. Olhos boquiabertos.

E eu que estava indo embora, e eu que tanto arquitetei racionalizações me vi abrindo num único movimento o ziper e as possibilidades.

É, eu podia desfiar aqui cada detalhe do desfecho inusitado da estória. Ou ponderar que não fossem as pernas ainda bambas e a marca na curva do pescoço me desnorteando ali na escada, eu mesma custaria a acreditar que foi como foi.

Eu podia, sim. Mas hoje ainda é ... hoje, o frio congelou as memórias e prefiro deixar aqui só entrelinhas e desejo de ...


(uma livre adaptação de alguma coisa que li aqui)






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