23.1.06
Ai... ai...
O cheiro do teu corpo persiste no meu durante dias. Não tomo banho. Guardo, preservo, cheiro o cheiro do teu cheiro grudado no meu. E basta fechar os olhos para naufragar outra vez e cada vez mais fundo na tua boca. Abismos marinhos. Minhas mãos escorrem pelo teu peito. Alguma coisa então pára, todas as coisas param. Os automóveis nas ruas, os relógios nas paredes, as pessoas nas casas, as estrelas que não conseguimos ver daqui. Olho no poço do teu olho, meia-noite em ponto. Quero fazer um feitiço para que nada mais volte a andar. Quero ficar assim, no parado. Sei com medo que o que trouxe você aqui foi esse meu jeito de ir vivendo como quem pula poças de lama, sem cair nelas, mas sei que agora esse jeito se despedaça. O inabalável vacila quando começa a brotar de mim isso que não esta completo sem o outro. Você me beija e eu me espalho pelos quatro cantos do quarto. Fico noite, fico dia. Fico farpa, sede, garra. Fico tosca e você se assusta com a minha boca faminta voraz de mendiga pedindo esmola neste cruzamento onde viemos dar.
(Caio)
(Caio)
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