1.10.05

Eu não queria ir, queria ficar em casa mastigando meus cacos de vidro, sentindo pena de mim mesma, mas ela insistiu tanto, tanto que fui, arrastada, mas fui.
Festa estranha com gente esquisita (!?), esquisita era eu no meio daquela gente, muito álcool e fumaça e em dias como estes não bebo, mesmo porque minhas mágoas já aprenderam a nadar, fiquei no meu canto do lado de fora e resolvi relaxar afinal a música era boa, a noite tava linda e as pessoas eram bonitas. De um lado tinha um casal explicitamente apaixonado, – que merda – pensei, do outro um pessoal fumando, só o cheiro já tava me deixando “zuada”, legal ficar doidona por tabela, na minha frente, pela janela da sala eu via um grupinho animadíssimo e no meio deles um cara contava algo que fazia todo mundo rir muito, ele gesticulava, sentava e levantava, fazia mímicas, do lado de fora, sem ouvir nada, comecei a rir também. Fiquei olhando um tempão, só ele falava, quantos anos será que ele deveria ter? Uns 25 ou 26 no máximo, bonito, aliás, muito bonito, alto também, 1,90? O que será que ele tanto conta? E o nome? Adoro olhar as pessoas e tentar adivinhar o nome, ele tinha cara de...hummm...Ricardo, não, Fernando, não, Marcelo, ah, qualquer pessoa tem cara de Marcelo e de Patrícia, Marcos, isso, ele tinha cara de Marcos, Marcão pelo tamanho ou Didi Mocó, as pessoas não paravam de rir. Signo? Obviamente Leão. Deve trabalhar com informática, todo mundo hoje em dia, com menos de 30 anos, trabalha com informática, pelas mímicas poderia até ser num circo e fiquei ali divagando, então ele parou de falar e me olhou, percebi que estava hipnotizada, não exatamente por ele, mas perdida nos meus desvarios, viajando, disfarcei, fui pegar outra água.
- Oi... tá bebendo o quê?
- Oi... Vodka, quer?

De perto ele era mais bonito e alto, 1,92, soube depois.
- Mentirosa... Você tem um olhar muito instigante... incomoda, sabia?
- Desculpa, fiquei ali fora tentando adivinhar o que você tava falando que fazia todo mundo rir daquele jeito.
Olhos verdes. VER-DES. A barba por fazer.
- Tava contando da roubada que foi a minha última viagem ao Pantanal
- Problemas com piranhas?
Ele riu, dentes perfeitos
- Férias?
- Não, trabalho.
- Trabalho? O que você faz?
- Sou botânico. Bom, vamos as apresentações, eu sou o Felipe.
Claro! Felipe, maior cara de Felipe
- Prazer, Lucila... mas botânico? Que interessante...
Lembrei imediatamente do que escrevi na Ciranda “...Um dia vou saber o nome de todas as flores e pra que serve cada tipo de erva...”
- É... todo mundo estranha, mas é minha vida, sempre estive envolvido com a natureza, olha... desculpa, mas tenho que falar, seus olhos são lindos.
- Hehehe, castanhos, básicos, queria é ter olhos azuis
- A beleza dos olhos não vem da cor...
Clichê, mas me deu frio na barriga.
- Quantos anos você tem?
- 25
Bingo!
E falamos sobre tudo, fauna e flora, Lula, Clarice Lispector, amores e suas dores, mulheres balzaquianas, filhos, música (ele também não gosta de Los Hermanos, rá!), internet (ele só tem e-mail por necessidade do trabalho, não sabe o que é orkut e não usa o Messenger porque prefere toques e vozes à teclas), até arrisquei umas taças de vinho e o riso ficou solto e quando cheguei em casa o sol já estava alto. Ah! Ele é de Leão ;D





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